A cidade de Pelotas, no sul do Brasil poderia estar fazendo melhor na oferta de oportunidades para seus habitantes participarem de atividades físicas e melhorar a saúde, de acordo com Pedro Hallal.
Professor Associado em Saúde Pública da Universidade Federal de Pelotas, e a principal figura por trás da segunda Série Lancet sobre atividade física e saúde.
“A cidade tem feito algumas melhorias ao longo dos últimos anos, mas como muitos ambientes urbanos em todo o mundo, promoção de atividade física atividade é desviada para uma minoria de pessoas que podem desfrutar disto. Nós continuamos a falhar em oferecer oportunidades de atividade física e melhor saúde para aqueles que precisam dela, a maioria, nas regiões mais pobres de nossas cidades”, diz ele.
Hallal sempre se sentiu ligado à saúde, influenciado por seu pai médico e sua mãe, uma assistente social. Como um jovem rapaz, ele se lembra de passar a maior parte do início da vida sua em atividades desportivas, nomeadamente futsal, e tênis.
Um curso de graduação em educação física na Universidade Federal de Pelotas o levou para um mestrado em epidemiologia, onde conheceu Cesar Victora, uma grande influência na formação da carreira de Hallal ao longo dos últimos 15 anos.
“Conhecer Cesar foi um aspecto importante da minha vida”, diz Hallal. “Um pouco como Isaac Newton da famosa citação sobre estar em pé sobre os ombros de gigantes. Foi Cesar que me fez perceber como, através de pesquisa, nós podemos mudar a vida das pessoas”, diz ele.
Outra influência chave na carreira de Hallal tem sido Jonathan Wells, do Instituto de Saúde Infantil de Londres, a quem Hallal conheceu enquanto estudava para seu mestrado em Pelotas.
No final de 2009, Hallal se mudou para Londres para trabalhar em sua tese de pós-doutorado junto Wells, principalmente na pesquisa para investigar a influência da ordem de nascimento e peso corporal sobre o desenvolvimento posterior. Hallal tem boas recordações deste tempo: “Eu me senti tão livre durante o meu tempo no Reino Unido. Com nenhum compromisso de ensinar, eu tive tempo para pensar e fui capaz de conceituar a Serie de 2012 da Lancet sobre atividade física”, diz ele.
Em 2011, Hallal ganhou um Wellcome Trust Young Investigator Award. “Este prêmio me comprou mais liberdade”, explica. “Daí resultou em dois projetos de longo prazo, nos quais passo a maior parte do meu tempo hoje: O estudo da coorte de nascimentos de Pelotas em 2015, e minha defesa / trabalho de política sobre o Observatório Global para a Atividade Física”, diz ele.
O objetivo global da coorte de Pelotas é investigar as influências de longo prazo das exposições iniciais de vida sobre a saúde durante toda a vida: descrevendo níveis de atividade física das crianças, pais e mães em todas as fases da vida, explorando os correlatos da atividade física e abordando as influências de longo prazo na saúde da inatividade física.
Hallal ajudou a criar o Observatório Mundial de Atividade Física em 2012, no lançamento da primeira Série Lancet sobre a atividade física. Este fórum mundial serve para promoção e influenciar a política de saúde pública em todo o país em relação ao aumento da atividade física como uma rota para redução de doenças não transmissíveis.
Como é que ele classifica o progresso do observatório quatro anos após a sua criação?
“Estou muito feliz com isso. Fomos capazes de preparar cartões para 150 países na primeira fase da nossa defesa do trabalho. Temos, agora, representantes de todas as regiões do mundo defendendo a promoção da atividade física em seus países e regiões próprias. O nosso objetivo é incluir todos os países em todo o mundo na segunda fase da nossa defesa, a ser lançada em 2018”, diz Hallal.
César Victora, professor emérito de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, comenta: “Pedro veio a mim em seus primeiros 20 anos, quando ele estava à procura de um supervisor para um mestrado em epidemiologia. Ele rapidamente evoluiu para se tornar um cientista / advogado que combina rigor metodológico, a dedicação à saúde pública, e uma incrível capacidade de reunir e motivar grandes grupos de colegas e alunos em torno de uma causa comum”.
Saindo de uma pequena universidade em uma área remota do Brasil, em menos de 10 anos, ele emergiu como o líder global do movimento de atividade física. Ações de controle dirigidas contra a epidemia da obesidade maciça na América Latina e em outras regiões de renda média serão grandemente beneficiadas pela obra que Pedro e seus colegas estão atualmente publicando na revista The Lancet.
Hallal é muito consciente das dificuldades à frente em realizar o pleno potencial de seu campo através da defesa do trabalho do observatório. “Temos alguns desafios difíceis à frente”, diz Hallal. “Quando os governos falam sobre saúde, sua prioridade é quase sempre sobre financiamento de tratamento de doenças, de infraestrutura de sistemas de saúde, que são, é claro, essenciais. Mas precisamos financiar a saúde, não apenas o tratamento da doença, se queremos colher o verdadeiro potencial da atividade física como uma parte fundamental da futura promoção da saúde”, diz ele.
E o que diz Hallal do compromisso pessoal com a atividade física?
“Eu preciso fazer mais”, ele confessa. “Mas a minha atitude em relação à atividade física espelha a abordagem que precisamos tomar ao nível da população. Obrigue-me a ir a um ginásio e eu não vou me interessar. Se a atividade física é tratada como uma pílula, tentando fazer valer 30 minutos de exercício por dia, não vai funcionar. Temos que tentar criar sociedades onde a atividade física torna-se parte da vida cotidiana. Equipes de esportes precisam ser priorizadas, o que não deve ser sobre ganhar a todo o custo, mas sim sobre a participação ativa, e prazer. Se não podemos desfrutar de atividade física, não vamos ter sucesso em usá-la como um componente chave da promoção da melhoria da saúde em todo o mundo.”
Richard Lane,
www.thelancet.com Vol 388 September 24, 2016